20/01/2021

Os dias em retalhos

Ainda guardo as lembranças de quando os dias eram tranquilos, embora essas recordações estejam escondidas em um baú inalcançável. Apesar da escuridão lá dentro, a minha mente ainda divaga pelas caminhadas matinais a passos lentos, observando cada detalhe da paisagem ao redor. Os dias percebiam a minha presença, quieta, observadora e sorridente. Hoje, ao contrário, estou desaparecendo, perdendo a cor vivaz da minha existência. Mas ainda que os dias estejam nublados, conservo (ou tento) a esperança de que tudo se torne vívido novamente.

Descrevo para mim mesma as lembranças mais ternas e cultivo os sentimentos daqueles tempos que não voltam mais, perdidos em páginas soltas de um livro caído atrás da estante. Sei que posso escrever novas páginas, palavras que ainda não foram escritas por mim em ocasiões passadas, mas minhas mãos se recusam, se fecham à nova caneta que comprei para o ano novo, para as segundas chances que nos prometem quando um novo ciclo começa. Neste ano, porém, não consigo dar uma nova chance a mim, afinal, quantas eu já perdi? Por desgosto e por acreditar que no fim não valeria a pena tamanho esforço.

Sonho em acordar pela manhã, às 6h, e ver a ansiedade partir, junto aos incontáveis dilemas que habitam minha mente. Não reclamaria em ajudar a carregar as malas para longe, por mais pesadas que elas pudessem ser, eles estariam, enfim, me dando adeus. Sei que é apenas um sonho, pois  meu corpo deu abrigo para as minhas perturbações; a cama é confortável e há cobertores nas gavetas do guarda-roupa. Penso em me mudar, ir para uma casa menor para que nada possa ocupar os cantos das paredes. É difícil sair, eu sei, mas um dia, em uma segunda-feira qualquer, eu desapareço.

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